segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Música, cinema e genocídio

O rock que luta contra o genocídio

Conhecida âncora da BBC e correspondente de outras emissoras de tevê (como NBC), a americana Carla Garapedian tratou de assuntos delicados como a invasão russa na Chechênia e a tentativa de golpe na Guiné Equatorial, assuntos que retratou como documentarista. Mas nada lhe provocou tamanha emoção como a realização de Screamers, que foi exibida na 31.ª Mostra Internacional de Cinema de SP. Trata-se da turnê da banda System of a Down que, a partir de suas performances, busca conscientizar os fãs sobre o genocídio sofrido pelo povo armênio, em 1915, atribuído ao Império Otomano, que provocou pelo menos 600 mil mortes. Uma potente união entre música e história.

'''Não posso negar que minha herança armênia pesou na escolha do tema'''', comentou Carla ao Estado, durante sua passagem por São Paulo. ''''Foi a primeira vez que tratei de um fato histórico e, na verdade, não pensava em lidar com esse assunto que já havia sido bem documentado por outros diretores. Mas, quando conversei com o vocalista do System of a Down, Serj Tankian, que também é de origem armênia, percebi seu interesse em divulgar seu ponto de vista político.''''

Era a chave que faltava para iniciar o processo sobre um assunto delicado e ainda conturbado. A lembrança da tragédia ainda provoca mal estar na Turquia, cujo povo é acusado de, no início do século passado, ter causado tal matança. O escritor Orhan Pamuk, por exemplo, foi preso no ano passado por declarar a um jornal suíço que 1,5 milhão de armênios morreram na Turquia durante a 1ª Guerra Mundial. Alguns países, como a França, reconheceram oficialmente que se tratou de genocídio. Outros, como os Estados Unidos, ainda não tomaram tal decisão.

Para não se ater apenas à turnê da banda, que se apresentou na Europa e Estados Unidos durante o período de filmagem, Carla Garapedian baseou-se também no livro A Problem from Hell: America and the Age of Genocide (Um Problema do Inferno: América e a Era do Genocídio), da ganhadora do prêmio Pulitzer Samantha Power. Foi dali que a diretora tirou o título do documentário - ''''screamers'''', no entender de Samantha, são as pessoas que denunciam ações caracterizadas como genocidas.

''''Havia ainda outro motivo'''', comenta Carla. ''''Serj me contou que, quando a banda iniciou sua carreira, muita gente dizia que eles eram muito talentosos mas, se continuassem gritando daquele jeito, talvez não conseguissem ir muito longe.'''' A documentarista lembra que o vocalista agradeceu o conselho, mas manteve a atitude no palco. ''''Quando eu o estava entrevistando, Serj me disse que aquela era a atitude certa e que, em política, todos deveríamos ser screamers (gritadores).''''

Carla confessa não ser admiradora do estilo pesado das apresentações da banda, mas foi extremamente bem recebida pelos quatro integrantes. ''''Eram de uma gentileza única, buscando facilitar meu trabalho além de sempre se preocuparem com meu conforto.''''

Screamers comprova que a intenção da documentarista se realizou plenamente. Além de exibir cenas da época do genocídio, surpreende ao revelar o grau de entendimento político dos fãs da banda - entrevistas realizadas durante a entrada do público antes dos shows mostram jovens de 15 e 16 anos discutindo não apenas sobre o genocídio armênio como outros massacres acontecidos ao longo da História. ''''Fiquei impressionada com o poder de persuasão que a banda tem ao passar sua mensagem'''', conta ela.

O documentário mostra ainda como a morte dos armênios não foi um caso isolado, comprovando que genocídios são inerentes à história do homem. ''''Logo depois, durante a 2.ª Guerra Mundial, houve o Holocausto contra os judeus e, mais recentemente, os assassinatos em Ruanda'''', observa Carla. ''''Sempre dizemos ''''nunca mais'''' quando isso acontece, mas a história se repete. Assim, devemos gritar, sempre, contra isso.''''

Fonte: Estadão

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Armênia em Debate

Uma tragédia relembrada pelo cinema e suas vítimas
O genocídio armênio, a maior tragédia na história desse povo comprimido entre quatro países na junção da Europa e a Ásia – a chamada Eurásia – ainda não é fato de completo domínio público, exceto em momentos em que novos lances políticos relacionados vêm à baila. Essa foi a idéia geral que motivou os quatro participantes do debate ocorrido no início da noite de segunda-feira, dia 22, no lounge do Clube da Mostra. Participaram da conversa as diretoras Eileen Thalenberg e Carla Garapedian, realizadoras respectivamente dos documentários A Longa Volta para Casa e Screamers, a professora de Língua Armênia na USP Lusine Yeghiazarian e Leon Cakoff, diretor da Mostra, que mediou o encontro também como voz ativa pela ascendência armênia.

Em pauta, a abordagem direta ou indireta nesses e em outros filmes exibidos na 31ª Mostra do extermínio perpetrado pelos turcos – e não reconhecido oficialmente por eles – entre 1915 e 1923. Nesse período de declínio do Império Otomano, eles teriam dizimado entre 1 a 1,5 milhão de armênios, dependendo da estatística escolhida. O assunto também ganhou a adesão recente dos italianos Paolo e Vittorio Taviani (A Casa das Cotovias), dos armênios Don Askarian (Ararat – 14 Visões) e Maria Saakyan (O Farol) e do francês Robert Guédiguian (Armênia).

Cakoff deu início à discussão chamando a atenção para a escolha aparentemente singela e constante da música nos filmes armênios e especialmente naqueles ali representados, tornando-se nesses casos protagonista. A Longa Volta para Casa acompanha a cantora de ópera Isabel Bayrakdarian em sua primeira viagem à Armênia, terra de seus antepassados. Screamers focaliza a popular banda de rock System of a Down em seu papel atuante de fazer valer o reconhecimento oficial do genocídio. Carla Garapedian, armênia que cresceu nos Estados Unidos, trabalhou na BBC como correspondente de guerra e se dedica ao tema de direitos humanos e genocídios, justificou que escolheu a música para apontar como é a relação hoje do jovem armênio com o assunto. “Não quis abordar o genocídio e o êxodo de forma direta, porque isso é muito difícil e pessoal de cada um de nós”, disse, referindo-se ao seu povo.

Eileen Thalenberg, de ascendência judaica e sem laços de parentesco com a Armênia, conheceu o país e se apaixonou pela cultura em geral e especificamente pela música sacra, interesse que resultou no documentário. “Fiquei fascinada como um povo que passou por aquele trauma valoriza e faz questão de manter um alto grau de cultura; não há uma noite sem um concerto para se assistir; eu tive então que abraçar essa causa”, explicou. A professora Lusine Yeghiazarian confirmou essa vocação cultural do país onde nasceu e falou da importância de abrir canais para esclarecer as novas gerações do ocorrido. E contou uma passagem: “É muito difícil atrair jovens aqui interessados em aprender o armênio na universidade; mas foi só afixarmos um cartaz para a comunidade de São Paulo sobre o System of a Down e muitos apareceram”, lembrou. “Os jovens têm que ter o olhar deles sobre o genocídio.”

O tópico que gerou maior debate foi a recente aprovação no Congresso americano, por uma margem apertada de 27 votos a favor e 21 contra, do reconhecimento oficial do extermínio e suas implicações no jogo de interesses global. “Bush não quer essa aprovação com medo de contrariar o governo turco, pois precisa do país como aliado para invadir o Iraque; por sua vez, a Turquia pressiona e nega o apoio à invasão enquanto houver chance desse reconhecimento”, lembrou Cakoff. Carla complementou explicando que desde o final do massacre há uma política constante de negação por parte da Turquia e também de posições alternantes de países europeus. Essa atitude varia da neutralidade e do não comprometimento, casos da França e da Rússia – que tomou conta do país na época do comunismo –, à hipocrisia, a exemplo, segundo ela, da Inglaterra. Lusine pontua ainda que essa posição da Turquia terá que ser revista rapidamente: “O país quer entrar na Comunidade Européia e esta já declarou que para isso o governo turco terá que aceitar o reconhecimento”.

Outra força no mesmo sentido parte de intelectuais turcos que já se expressam a favor dessa aceitação, a exemplo do prêmio Nobel de literatura Orhan Pamuk. “Eles são favoráveis pela idéia de que, para se livrar desse fardo, é melhor aceitá-lo”, disse Carla. “O problema é que na Turquia há uma lei que proíbe comentar o genocídio, caso contrário pode se sofrer um processo”. Em alguns casos, como lembra a diretora, a perseguição vai mais longe. O jornalista turco Hrant Dink deu depoimento favorável ao reconhecimento do genocídio em Screamers e em janeiro deste ano foi assassinado.

Tanto as realizadoras quanto a professora fizeram questão de frisar que filmes, livros ou qualquer outra forma de representação da tragédia armênia não devem ser considerados apenas nesse âmbito. “Eu não faço filmes políticos e sim sociais, para mostrar que pela arte, por exemplo, pode-se mudar muita coisa; vocês têm aqui o exemplo do trabalho do bailarino Ivaldo Bertazzo, com quem colaborei”, apontou Eileen. Carla citou a exibição de seu filme em Hamburgo, na Alemanha, para lembrar que os jovens presentes nunca tinham ouvido falar do extermínio armênio: “Isso porque a corte de Berlim foi a primeira a julgar, em 1933, os criminosos da guerra, que começou quando minorias da região como os armênios passaram a reivindicar mais liberdade; alguns poucos foram condenados e nada mudou muito desde então”. Lusine finaliza: “Um genocídio é uma tragédia da humanidade, e não só de um povo, como no caso armênio; temos que condenar essa prática para que ela não se perpetue”.

Fonte: Site da Mostra Internacional de Cinema

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Forte Aliado

Comissão legislativa dos EUA aprova texto sobre genocídio armênio

Um comitê da Câmara dos Representantes do Congresso dos Estados Unidos aprovou nesta terça-feira uma resolução qualificando como genocídio a matança de armênios por turcos otomanos durante a Primeira Guerra Mundial, contrariando advertência do presidente americano George W. Bush.

O Comitê de Relações Exteriores aprovou a moção por 27 votos a 21, no que é o primeiro passo para que a proposta seja submetida a votação no plenário da Câmara dos Representantes.

A Casa Branca manifestou desapontamento com o resultado da votação.

Anteriormente Bush havia dito que a medida poderia prejudicar bastante as relações dos Estados Unidos com a Turquia, qualificando o país como um aliado-chave na "guerra contra o terror".

O presidente da Turquia, Abdullah Gul, reagiu rapidamente ao resultado, dizendo que a medida é "inaceitável".

Quando a França aprovou resolução semelhante no ano passado, a Turquia cortou ligações militares com o país.

Bases militares turcas são cruciais para as operações americanas no Iraque e no Afeganistão.

A Turquia nega que turcos otomanos tenham massacrado sistematicamente 1,5 milhão de armênios entre 1915 e o fim da guerra, em 1918.

Segundo as autoridades turcas, os dados são exagerados e são relativos não a genocídio, mas a um conflito interno em que também morreram muitos turcos.

Fonte: BBCBrasil
Outros:
Turquia condena voto...(BBCBrasil)
Parlamentares dos EUA aprovam...(Estadão)
Comissão legislativa dos EUA aprova...(FolhaOnline)

Os votos(valeu Sarkis e Heitor)
Segue a relação dos parlamentares que votaram contra e a favor da Resolução 106:

A favor(27):
Gary Ackerman (D-NY), Howard Berman (D-CA), Gus Bilirakis (R-FL), Steve Chabot (R-OH), Jim Costa (D-CA), Joseph Crowley (D-NY), William Delahunt (D-MA), Eliot Engel (D-NY), Eni F. H. Faleomavaega (D-SM*), Elton Gallegly (R-CA), Gabrielle Giffords (D-AZ), Gene Green (D-TX), Sheila Jackson Lee (D-TX), Ron Klein (D-FL), Tom Lantos (D-CA), Donald Manzullo (R-IL), Michael McCaul (R-TX), Donald Payne (D-NJ), Dana Rohrabacher (R-CA), Edward Royce (R-CA), Linda Sanchez (D-CA), Brad Sherman (D-CA), Albio Sires (D-NJ), Christopher Smith (R-NJ), Diane Watson (D-CA), Lynn Woolsey (D-CA), e David Wu (D-OR)

Contra(21):
Gresham Barrett (R-SC), Roy Blunt (R-MO), John Boozman (R-AR), Dan Burton (R-IN), Russ Carnahan (D-MO), Jeff Flake (R-AZ), Jeff Fortenberry (R-NE), Luis Fortuno (R-PR), Ruben Hinojosa (D-TX), Bob Inglis (R-SC), Connie Mack (R-FL), Gregory Meeks (D-NY), Brad Miller (D-NC), Mike Pence (R-IN), Ted Poe (R-TX), Illeana Ros-Lehtinen (R-FL), David Scott (D-GA), Adam Smith (D-WA), Thomas Tancredo (R-CO), John Tanner (D-TN), e Robert Wexler (D-FL).

Abstenções(2):
Ron Paul (R-TX) e Joe Wilson (R-SC)